10.10.08

O desafio de fazer política em dois idiomas

É curioso acompanhar o cenário político canadense com suas particularidades bilingues. A coisa fica mais interessante ainda quando se está há 4 dias de eleições federais. Tudo é motivo para esquentar os debates e as entrevistas que os candidatos ao cargo de Primeiro Ministro canadense dão aos veículos de comunicação canadense.

Para quem está fora do Canadá ou não está acompanhando, o cenário político para as eleições federais resume-se aos seguintes partidos e candidatos: o atual primeiro ministro Harper tentando se reeleger pelo partido Conservador, Stephane Dion (lider da oposição pelo partido Liberal) centro da última polêmica e motivo deste post, Jack Layton pelo NDP (o partido democrata) e Elizabeth May  (líder do partido verde).

De volta à última polêmica. Todos os candidatos ao cargo de primeiro ministro do Canadá passam por debates conduzidos nos dois idiomas: inglês e francês. Naturalmente, o inglês é o primeiro idioma de uns, o francês o segundo idioma de outros e vice-versa. A panacéia linguística se deu ontem quando o líder da oposição Stephane Dion deu esta entrevista, em inglês,  para um canal canadense  e o jornalista teve que repetir 3 vezes a mesma pergunta e ainda assim Dion não conseguiu entender. O primeiro idioma de Dion é o francês. 

Daí começa a confusão. A pergunta hipotética "If you were the Prime Minister what would have done about the economy and the global crisis that Mr. Harper hasn't done?" e a ausência de resposta de Dion agora se espalha e surgem diversas teorias. O próprio Dion, enquanto eu escrevo este post, está dando entrevistas tentando esclarecer o episódio dizendo que o inglês é o seu segundo idioma e é natural que ele não tenha entendido, isso acontece. Um de seus assessores mencionou que Dion tem um problema de audição. Enquanto isso ....

O atual primeiro ministro e candidato à reeleição diz que isso não tem nada a ver com idioma, falta de audição mas com o simples fato de Dion não ter um plano para lidar com situações de crise como a que estamos passando agora. Ah, há ainda a opinião de alguns eleitores canadenses que estão comentando nos blogs de notícias e que, naturalmente apoiam a reeleição de Harper, que se fosse o atual primeiro ministro sendo entrevistado em francês (segundo idioma de Harper) ele teria entendido e respondido a mesma questão em francês.

Está armado o circo faltando apenas 4 dias para as eleições federais que, segundo analistas e pesquisas, deve reeleger o atual primeiro ministro. Entretanto, independente de opinião política e partidária, achei o fato muito curioso. Como jornalista e uma apaixonada por discussões em torno de comunicação, linguística, semântica e idiomas estrangeiros, não poderia deixar de notar o ocorrido.

E você? O que acha? Foi um problema de idioma? de audição? falta de preparo? falta de plataforma política ou tudo junto? 

Bom fim de semana  à todos!

6.10.08

Cegueira Branca

E se você fosse a única pessoa que pudesse enxergar?

Aqui em casa, ambos leitores de Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, estávamos muito ansiosos para conferir a adaptação da obra que começou a passar nos cinemas por aqui na última sexta-feira, 3 de outubro, com o título de Blindness. Fomos ontem e não nos decepcionamos! Um excelente filme, assim como o livro!

Fernando Meirelles simplesmente deu um show de direção e, na minha opinião, atingiu seus objetivos em fazer uma adaptação naturalista que fizesse com que as pessoas saíssem do cinema se perguntando “E se isso acontecesse comigo?” Provocativo, forte, impactante. Um clip sobre as misérias do caráter humano e suas consequências...

Isso sem falar nos efeitos visuais e de som utilizados para causar em quem assiste a verdadeira sensação da cegueira – a cegueira branca. Usar a luz branca como recurso de finalizar uma cena e iniciar outra. O senso de desorientação que a direção do filme atingiu ao usar e abusar de sons é incrível! 

Blindness – Ensaio sobre a Cegueira aí no Brasil – é um filme sobre a condição humana. Assim como no livro, não se trata de contar a estória de algum lugar ou tempo específico. Os valores humanos, seus limites, a moralidade e o que acontece quando uma sociedade toda é avassalada por um problema e apenas uma pessoa está em condição diferente? Aí entra a brilhante atuação de Juliane Moore, ela carrega o filme, a história é contada sob o ponto de vista dela. 

Outro mérito do filme foi o de ser bem fiel ao inteligente texto de José Saramago! Até o cachorro, que no livro é chamado de “cachorro das lágrimas”, está no filme. Segundo o próprio Fernando Meirelles, este foi o único toque que José Saramago deu a ele durante as filmagens, o de não esquecer do cachorro das lágrimas! 

Filme para pensar. Filme de metáforas e ao mesmo tempo tão real e naturalista. Filme muito bom. Excelente trabalho do Fernando Meirelles e de todo o elenco. Quem leu o livro e gostou muito da obra não sai do cinema desapontado com Blindness ou Ensaio da Cegueira aí no Brasil. O filme é nota mil! Como diz o slogan do filme por aqui: "You won't believe your eyes!"

*PS – Como a maior parte do filme foi rodada em São Paulo capital, outro exercício interessante para quem, como nós já morou ou mora na capital, é o de reconhecer cada viaduto, cada cenário mostrado nas externas do filme. Embora a produção tenha feito um excelente trabalho em trocar as placas com os nomes das ruas por nomes em inglês e cuidadar de todos os detalhes.

2.10.08

A Era do Gelo na revista do Itaú

A revista do Instituto Cultural Itaú deste mês reflete a migração e traz uma série de reportagens sobre o assunto. Entre elas, está o texto de Micheliny Verunschk "As grandes navegações - a era dos blogs reinventa a migração" para o qual fui entrevistada e pude contribuir para uma das muitas matérias sobre o assunto. 

Se você é, foi ou será um migrante, vale a leitura da série de reportagens!



Um lugar diferente, pessoas novas, uma língua estranha, costumes desconhecidos. Um sonho, talvez um pesadelo, mas sempre uma experiência. A Continuum de outubro Um lugar diferente, pessoas novas, uma língua estranha, costumes desconhecidos. Um sonho, talvez um pesadelo, mas sempre uma experiência. A Continuum de outubro propõe uma discussão sobre um tema complexo: a migração, seja ela física ou psicológica, espacial ou temporal. Os textos dessa edição não buscam oferecer respostas, mas, sim, reflexões sobre a vida face à mudança de lugar - ou à decisão de jamais sair dele. uma discussão sobre um tema complexo: a migração, seja ela física ou psicológica, espacial ou temporal. Os textos dessa edição não buscam oferecer respostas, mas, sim, reflexões sobre a vida face à mudança de lugar - ou à decisão de jamais sair dele.